O Brasil precisa de um Ministério Público fiscal, probo, desburocratizado e inserido num Sistema de Justiça Criminal ágil, integrado e coativo, próximo das questões de ordem pública e envolvido dentro das corregedorias na defesa e execução das leis e na consolidação da supremacia do interesse público, contra a corrupção, imoralidades, improbidades, criminalidade e violência que afrontam a confiança nos Poderes, o erário, a vida, a educação, a saúde, o patrimônio e o bem-estar do povo brasileiro.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O MARTELO E O MINISTÉRIO PÚBLICO

O martelo e o Ministério Público, por Ricardo Giuliani, advogado. Zero Hora 17/11/2010

Passaram-se quase 30 dias e não visitei Maria. No rádio: “Promotora não quer menores assistindo a Tropa de Elite 2”. Viu o filme? – disse não! Não viu e não gostou?! “Não vi, mas li a crítica.” Os pais podem acompanhar os filhos e definir se podem ou não ver o filme? – diz o repórter, prum caso de censura do tipo sei lá o quê. “Os pais não têm condições de tomar estas decisões.” Tira os tubos.

Noutro dia, o MPE prendeu um cidadão que atropelou duas galinhas. Sim, 15 toneladas de carne suína num caminhão e duas galinhas atravessaram a rodovia e, plofh e plofh; os galináceos partiram.

Chamada a polícia, o galinicida foi preso. A convicção do MP, dita a ZH, deu-se pelo retrovisor do carro, donde percebera o dolo “nos olhos” do condutor dos suínos feitos pra linguiças, assados e outros manjares humanos.

Se o azarão atropela a promotora e a mata? Desgraça ao motorista dos porcos. Todavia, paga a fiança, solto, livrar-se-ia. Já pelos três quilogramas de penosas beijando o asfalto, crime ambiental, inafiançável. O galinicídio e o giro hermenêutico, tema para doutorado! O MP tem muito o que fazer para preocupar-se com galinicídios e com pais mal-educados.

Atravesso o Túnel da Conceição e lá está o Parquet. O MPF representou ao MPE mandando o prefeito explicar-se pelos 18 meses de obras e pelos só 20 trabalhadores.

Óbvio, uma via urbana gera alvoroço nas hostes da República. Buenas e me espalho! Vejo a Ponte do Guaíba e o seu vão móvel, de 40 anos, fadigada e preguiçosa no içamento. Lógico, quem está na área? Quem? A Procuradoria da República! No túnel, na ponte, na República e na Zero Hora, é claro.

Na ponte, houve audiência pública e, nos microfones, sentença ministerial: “Não vou mais tolerar problemas com o içamento da ponte”. Ah, bom! Os materiais perderão a fadiga e, re-ceosos da ameaça ministerial, recompor-se-ão, e os cabos de aço deslizarão. Física? Engenharia? Às favas, afinal, é a vontade do MPF. E Deus disse: “Primeiro foi o verbo”. Agora vai!

Faz cerca de 30 dias que Maria está neste mundo; vou de bilu-bilu e beijos nas bochechas. Quando crescer, Maria, faça-se feliz e imune às falas onipresentes e onipotentes. Não se meta com galinhas, vias urbanas ou cabos de aço fadigados. Assista a filmes que não os indicados pelos zeladores da humanidade. Bancos ou companhias de celulares? Não se preocupe! Os donos das causas da sociedade estarão prontos pra te defender.

Ensinava o grande Martin Heidegger: “A gente só sabe o que é o martelo quando ele quebra”. Fico por aqui, bilu-bilu... e não me venham com respostas do tipo, gugu-dadá.

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