ZERO HORA 04/08/2017 - 16h14min | Atualizada em 05/08/2017 - 11h55min
Promotores
gaúchos lideram manifesto contra "garantismo e bandidolatria". A partir
das redes sociais, um grupo de 145 promotores de Justiça — 100 deles
atuantes no RS — divulgaram documento criticando o que consideram
decisões judiciais benéficas a criminosos.Eugênio Amorim é um dos mentores do manifesto Foto: Fernando Gomes / Agencia RBS
Um
grupo de 145 promotores de Justiça — 100 deles do Rio Grande do Sul —,
nove advogados e um juiz lançou na última quinta-feira (3) um manifesto
que reacende uma polêmica no mundo jurídico. Defendem maior rigor nas
penas impostas a criminosos e criticam o que chamam de "garantismo e
bandidolatria" no sistema jurídico e nos cursos de Direito.
— Foi
uma iniciativa que partiu de nossos grupos de discussão no WhatsApp a
partir do caos que se está construindo no sistema jurídico brasileiro.
As reformas propostas aos Códigos Penal e de Processo Penal vão impedir
ainda mais a punição aos criminosos. Quando se fala em garantias de
direitos, é uma enganação. Estão é em busca de não punir quem comete
crimes — critica o promotor com atuação na Vara do Júri, em Porto
Alegre, Eugênio Paes Amorim.
Ele é um dos idealizadores do
manifesto intitulado: "Você tem sido enganado!". Cita entre os
principais pontos de contestação a medida que impediria o uso de
depoimentos de testemunhas na fase de inquérito policial nos júris. No
manifesto, a crítica à reforma proposta é evidente:
— Quem opera a
Justiça diariamente, defendendo a sociedade, somos nós. É sabido que
uma testemunha muitas vezes volta atrás, sob ameaça, quando depõe à
Justiça. Hoje, no Brasil, condena-se apenas 1% dos homicidas. No Rio
Grande do Sul esse índice ainda é maior, mas a tendência, se aprovadas
as propostas de mudança nos códigos, é terrível — justifica.
Em
um dos trechos do manifesto disseminado a partir de grupos de discussão
na internet, diz: "O que eles chamam de processo penal democrático:
deveriam chamar de democida (aquele que extermina o povo)"
Para o
promotor da Justiça Militar gaúcha, Luiz Eduardo de Oliveira Azevedo, é
uma questão ideológica que precisa ser modificada.. . . . . . . . . . .
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— Pior que
garantistas, muitos juízes e alguns promotores são contra prisões. A
sociedade já está farta de verdadeiros absurdos jurídicos em nome do
discurso do problema social, de que o indivíduo se torna bandido por
necessidade. A academia está com essa mentalidade de esquerda
encrustada. O que propomos é o debate, o contraditório — explica.
Outro
ponto polêmico no documento faz menção a medidas para esvaziar cadeias.
O desencarceramento, para os promotores que assinam o ato significa
"bandidos soltos e você preso em casa".
— É um culto
bandidólatra, embasado na falta de escolha para a entrada na vida
criminosa. O que eu vejo na execução penal é que o crime é cada vez mais
uma escolha lucrativa, e as interpretações da lei são sempre muito
benéficas aos criminosos. Então, quando eles cometem crimes, já sabem
que é muito baixo o risco de lhes acontecer algo ruim — conclui a
promotora responsável pelo acompanhamento da execução penal, em Porto
Alegre, Débora Balzan.
Outros dois pontos de crítica do manifesto
são a nova lei de abuso de autoridade e a necessidade de construção de
mais presídios.
Audiências de custódia estão entre os pontos criticados pelo manifesto Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS
"Eu sou, sim, um garantista"
Integrante
da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, a
recordista e concessões de habeas corpus entre as 10 câmaras do
tribunal, o desembargador Diógenes Vicente Hassan Ribeiro concorda em ao
menos um ponto com os críticos. Sobre a necessidade de criação de vagas
em presídios.
— Eu lido com dados concretos. Nos últimos dois
anos, a população carcerária gaúcha aumentou em oito mil pessoas. Isso
significa uma elevação de 30% sem que novas vagas tenham sido criadas.
Quer dizer que está havendo a condenação: as polícias, o Ministério
Público e a Justiça estão funcionando — aponta.
Diante dos conceitos de "garantismo e bandidolatria" apresentados no manifesto, o magistrado não titubeia:
—
Eu sou, sim, um garantista. Tomo decisões de acordo com a lei e a
Constituição. Se há críticas às decisões da 3ª Câmara, é normal. Juízes,
promotores, qualquer um erra. É para isso que servem os recursos. E,
afinal, qual o problema na revisão da lei de abuso de autoridade? O
controle das ações é necessário.
Para o sociólogo e coordenador
do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUCRS, Rodrigo
Ghiringhelli de Azevedo, o manifesto é reflexo da "pré-falência da
segurança pública", que deixa a sociedade mais insegura. O medo, por sua
vez, com facilidade, se converte em caldo de cultura para demandas
vingativas.
— Esse é um debate superado, desconectado no tempo,
que pode se situar no período pré-Revolução Francesa. O manifesto já
vinha sendo gestado há tempo, mas o que nos surpreende é a quantidade de
promotores que estão apoiando — disse.
O manifesto não é
institucional, e sim uma iniciativa de alguns promotores. Procurada pela
reportagem, a Procuradoria-Geral de Justiça enviou, via assessoria de
imprensa, um pronunciamento do coordenador do Centro de Apoio Criminal
do MP, Luciano Vaccaro. Segundo o representante do Ministério Público, o
manifesto "expressa a opinião de vários promotores que atuam na área
criminal e verificam, no dia a dia, as deficiências no sistema de
Justiça Criminal e também chamam a atenção para várias modificações
legislativas que estão em curso e que precisam ser acompanhadas pela
sociedade".
População carcerária gaúcha aumentou 30% nos últimos dois anos Foto: Omar Freitas / Agencia RBS
A íntegra do manifesto:
"Nós,
operadores do Direito realmente preocupados com a segurança pública,
com o direito de ir e vir das pessoas, com a vida das pessoas de bem e
não só dos bandidos, preocupados especialmente com as vítimas e não só
com seus algozes, queremos revelar certas verdades a você, cidadão que
sustenta o Estado e tem se enganado com ele e com certas entidades,
certos professores, certos 'especialistas' e outros que parecem não
querer que você saiba de certas coisas. Mas você saberá agora que muita
coisa do que você tem sido induzido a pensar NÃO É VERDADE! VOCÊ TEM
SIDO ENGANADO!
Você pensa que estão fazendo um novo código penal
para diminuir a IMPUNIDADE e melhorar a segurança pública, mas o que
está em andamento torna a LEI PENAL MAIS BRANDA e ainda dá salvo-conduto
a desordeiros e terroristas fazerem o que quiserem sem responderem na
Justiça. É O QUE ELES CHAMAM DE REFORMA DO CÓDIGO PENAL: QUE SÓ VAI
AUMENTAR A IMPUNIDADE.
Você pensa que estão preocupados com os
crimes nas ruas, os assassinatos, os assaltos, com a impunidade, mas
eles estão tentando tirar criminosos perigosos da prisão e colocá-los
nas ruas, aumentando o perigo para os cidadãos e alegando presídios
cheios, enquanto ao mesmo tempo são contra construir novos presídios
parecendo que querem continuar a ter a mesma alegação pra continuarem
soltando. É O QUE ELES CHAMAM DE DESENCARCERAMENTO: BANDIDOS SOLTOS E
VOCÊ PRESO EM CASA COM MEDO, OU CORRENDO RISCO NA RUA.
Você pensa
que eles se preocupam com sua vida, mas criaram uma audiência que
resultou no aumento daqueles casos em que o marginal perigoso é
imediatamente solto e faz outras vítimas nos dias seguintes. É O QUE
ELES CHAMAM DE AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA.
Você pensa que estão
fazendo mudanças no Código de Processo Penal para que ele facilite a
apuração da verdade, e que se evite impunidade, e que se evite o deboche
da justiça, e que se dê algum consolo à família das vítimas. Mas o que
estão fazendo é PROIBIR que o Ministério Público possa expor certas
verdades. É colocar número par de jurados e decretar que o empate pode
absolver, para aumentar as chances de salvar assassinos. É permitir que a
defesa fale duas vezes enquanto o MP só fala uma. É proibir que se
leiam depoimentos do inquérito que foram produzidos antes das
testemunhas serem ameaçadas, antes delas estarem com medo, antes delas
serem compradas¿ É O QUE ELES CHAMAM DE PROCESSO PENAL DEMOCRÁTICO:
DEVIAM CHAMAR DE PROCESSO PENAL DEMOCIDA (AQUELE QUE EXTERMINA O POVO).
Você
pensa que estão fazendo uma lei para evitar o abuso de autoridade de
qualquer um, mas ELES ESTÃO MESMO É FAZENDO UMA LEI QUE SÓ ATINGE
PROMOTORES, POLICIAIS E JUÍZES e voltada a garantir que qualquer
criminoso faça represálias sem fundamento contra quem ousar promover
justiça. É O QUE ELES CHAMAM DE NOVA LEI DO ABUSO DE AUTORIDADE: SÓ VAI
ATINGIR A AUTORIDADE QUE ATUA DE FORMA JUSTA E EFICIENTE.
Você
pensa que eles querem Democracia e Justiça, mas eles criam uma proposta
de Lei, VIOLANDO A CONSTITUIÇÃO, para punir promotores e juízes que
deles discordarem, acusando-os da indefinida conduta – que serve pra
tudo, quando se quiser—de violar prerrogativas da classe– e ainda
permitindo que, contra a Constituição, uma corporação possa fazer
procedimentos inconstitucionais contra promotores, juízes e policiais. É
O QUE ALGUNS CHAMAM DE GARANTIR AS PRERROGATIVAS DA CLASSE: PARA QUE SE
POSSA CONSTRANGER PROMOTORES, JUÍZES E POLICIAIS E DEIXÁ-LOS COM MEDO
DE CONTRARIAREM VOLUNTARISMOS ILEGAIS E CHICANAS E TORNA A CLASSE A MAIS
PODEROSA E DIFERENCIADA DO PAÍS.
Você pensa que eles querem
garantias para você, cidadão, mas eles só querem que não haja punições
de verdade, só querem garantir criminosos¿ É O QUE ELES CHAMAM DE
GARANTISMO, NO BRASIL: QUE TEM GERADO CADA VEZ MAIS IMPUNIDADE DA FORMA
QUE APLICAM.
Enfim, você pensa que eles querem te proteger, mas QUASE TODAS AS MEDIDAS SÃO PARA PROTEGER CRIMINOSOS E GARANTIR IMPUNIDADE.
Pelas
obras e pelos frutos você verá melhor quem é quem: PRESTE SEMPRE
ATENÇÃO. Em breve falaremos mais, revelaremos mais, explicaremos mais.
Este é só o primeiro dos manifestos.
'Quem poupa o lobo sacrifica as ovelhas' (Victor Hugo)
Bandidolatria mata.
Desencarceramento mata.
Impunidade mata."